Bruno Stefani, diretor de inovação global da AB InBev

Luiza Terpins
No Corre

--

Para acompanhar o que acontece no mundo, um de seus principais hábitos é o de se expor ao máximo de conteúdo possível

Quem

Bruno Stefani, diretor de inovação global da AB InBev. A minha área tem como maior preocupação gerar impacto para a companhia, seja organizando grandes projetos com outras áreas de negócios da empresa ou fazendo conexões entre as marcas da AB InBev com o ecossistema de startups. Identificamos dores e soluções e fazemos o “match”.

Saíram daqui projetos como o do Zé Delivery, que melhorou a experiência de comprar cerveja gelada para consumir em casa — e que ganhou bastante destaque com a pandemia — ; e o Empório da Cerveja, nosso e-commerce que movimenta o mercado de cervejas artesanais de todo o Brasil.

Quando comecei, há 3 anos e meio, o meu time tinha apenas 1 pessoa. Hoje já temos 60 espalhadas ao redor do mundo e com visões e habilidades complementares, como community, design, tecnologia…

O que fazia antes

Antes de entrar na Ambev, eu trabalhava no mercado financeiro. Cuidava de clientes private e, por conta deles, acabava fazendo muito network com empreendedores. Foi aí que percebi que queria estar do outro lado e participar mais do ecossistema.

Como é um dia de trabalho?

Aqui a gente não acredita que vida pessoal seja diferente da vida profissional. É tudo vida. Então da mesma forma que eu posso ir à tarde na academia, não tem problema se pintar uma reunião para fazer à noite.

Como diretor, eu acabo executando menos. O meu foco está em cuidar da estratégia da área e das pessoas.

Tenho os momentos de conexão com o time, mas boa parte do meu dia a dia eu uso para me informar — e inclusive coloco isso na minha agenda para que o pessoal veja e leve como exemplo. Então eu leio livros (o último foi Smart Business: What Alibaba’s Success Reveals about the Future of Strategy), faço cursos online (estou fazendo o de futurismo da Areolito), converso com pessoas e compartilho conteúdos. Também sou mentor do Brasa, associação de estudantes brasileiros no exterior, e aprendo demais com eles.

Eu concordo muito com o pensamento de que "se você não se sente perdido, algo está errado". Tem muita coisa acontecendo no mundo para a gente conhecer e aprender e isso acaba sendo fundamental para a minha função como diretor de inovação. É importante ter o radar ligado.

Para isso, eu aplico o método CEP+R do Conrado Schlochauer [e do Alex Bretas]:

  • Conteúdo: é a capacidade de fazer uma curadoria de conteúdos que podem agregar valor para mim — às vezes um podcast com o autor de um livro pode ser mais interessante do que a leitura do livro em si, por exemplo;
  • Experiências: é colocar os aprendizados em prática e vivencia-los.
  • Pessoas: é sobre conversar com pessoas de diferentes perfis e áreas para trocar conhecimento e aprender com elas. Quanto mais nos conectamos, mais aprendemos;
  • Redes: é interagir com comunidades com interesses em comum.

Ou seja, uma parte importante do meu trabalho é entender como posso levar o conteúdo das pesquisas que leio e das inovações que descubro para as áreas de negócio da companhia. No momento também estou fazendo um Doutorado no CESAR com o Silvio Meira. O olhar de academia estica o cérebro, me ajuda bastante a conectar os pontos.

→ Pausa para o jabá: receba os novos posts do nocorre no seu e-mail! Clique aqui para assinar a newsletter :)

O que você costuma fazer nas horas vagas?

Fico com a família. Tenho um filho de 3 anos e tem sido muito legal vê-lo crescer. Estou trabalhando de casa há 14 meses e aproveito cada intervalo entre reuniões para brincar com ele.

O que te ajuda a ser mais produtivo?

Trabalhar de casa me poupa o tempo que eu gastaria em trânsito para ir e voltar do trabalho, mas também me ensinou que se você tem mais tempo e não se organiza, esse tempo a mais voa. Então eu sigo o seguinte: se não está na agenda, não existe. Fora isso, limpo meus canais de comunicação, como e-mail, WhatsApp, mensagens no Instagram e no Linkedin.

Também tenho feito exercícios. Antes eu usava aquelas pulseiras que medem os passos e andava cerca de 8 mil passos por dia. Em casa tenho andado 500, então visito a academia e a piscina do prédio para me mexer.

No BRASA Summit, em 2019, nos Estados Unidos

O que ou quem tem te inspirado?

Execução, como um todo, é algo que me inspira. Ideias não valem nada, o que vale é saber colocá-las em prática e aprender a partir delas.

Não é porque eu trabalho na Ambev, mas a capacidade da companhia de executar algo fora do próprio core é demais. No último ano produzimos álcool gel, cilindros de oxigênio…Poderíamos ter doado dinheiro, mas preferimos agregar valor executando, mesmo que algo fora da nossa área. Hoje, ser flexível é essencial.

A descentralização dos negócios e do ecossistema, aliás, é muito interessante. Peguemos empresas como Amazon e Google, por exemplo. A gente já não sabe a qual setor elas pertencem exatamente porque oferecem de tudo. Aqui no Brasil o Fred Trajano já disse que quer seguir o mesmo caminho com a Magalu, e além de ter a visão, ele sabe como executar esse plano.

Também estou muito atento aos movimentos da China. Acho incrível a velocidade com que eles executam as coisas. Fui para lá em 2019 e na hora em que desembarquei e fui passar meu passaporte na máquina, ela já identificou que eu era brasileiro e começou a se comunicar comigo em português. Pensei: "estou aqui há 30 segundos e já está interessante". Eles estão muito à frente e estou de olho principalmente no que estão fazendo com moedas digitais.

Quais são os maiores desafios de trabalhar na sua área?

A cadeia em uma cervejaria é muito grande, vai da plantação de cevada ao aplicativo por onde os parceiros e clientes finais compram a bebida, por exemplo. No meio do caminho tem um mundo de processos.

No nosso caso, ainda estamos falando de fornecedores e comunidades locais espalhadas pelo Brasil, cada uma com suas regionalidades — além de equipes próprias de marketing, distribuição, etc. Então já temos aí um grande desafio que é criar uma conexão com as comunidades (seja pelo orgulho de pertencimento ou pelo próprio impacto financeiro da região) e imaginar como elas se comportarão em 5, 10 anos — não à toa, a minha tese de doutorado é sobre como as grandes empresas operam no ecossistema em realidades locais.

O mundo está em constante movimento e a gente está sempre fazendo experimentos para entender o que o consumidor quer naquele momento. Isso é um baita desafio porque tudo muda muito rápido, né.

Se olharmos para o ano passado nessa época, por exemplo, tivemos o boom dos vídeos curtos como os do TikTok, depois tivemos o momento das lives de no mínimo uma hora, e passamos até pelo Clubhouse com conteúdo infinito em áudio. Se a gente batesse o martelo em uma coisa e parássemos tudo para desenvolver, provavelmente na hora do lançamento ela já estaria atrasada. Por isso fazemos muitos testes.

Pegar uma empresa gigantesca para se movimentar nessa velocidade é dificílimo. E é aí que entra, mais uma vez, a importância de ser flexível. Na teoria parece fácil, mas na prática é sempre um desafio.

Um perfil de rede social/site/newsletter que você acessa todos os dias

São muitos! Uma ferramenta que me ajuda muito é o Feedly. Basicamente coloco todas as fontes de conteúdo que consumo e o robô vai me entregando os materiais de acordo com o que eu demonstro ter mais interesse.

Fora isso, leio jornal (Valor Econômico) e escuto todos os dias pelo menos um podcast (alguns exemplos: Nerdcast, Guga Stocco, MIT Tech Review e Tim Farris).Também sou fanático por revistas e assino várias pelo iPad.

Tento me expor ao máximo a todo tipo de conteúdo e aprender com eles. Hoje, acho que não é sobre ter ou não um diploma de Harvard, é sobre ter a capacidade de fazer uma boa curadoria.

Quem você gostaria que participasse dessa seção?

Várias pessoas: Tiago Mattos, Guga Stocco, André Fatala (CTO do Magalu), a futurista Daniela Klaiman e o Silvio Meira.

→ Você encontra outras histórias de pessoas que estão no corre para fazer coisas incríveis clicando aqui!

→ Receba os novos posts do nocorre no seu e-mail! Clique e assine a newsletter :)

Sobre o nocorre:

Oi, aqui é a Luiza Terpins, criadora do nocorre. Desde 2018 eu bato papo com pessoas que estão na correria para fazer um projeto acontecer e conto aqui suas trajetórias e bastidores. O meu corre atualmente é na Além, onde sou co-fundadora e head de conteúdo. Antes, fui head de comunicação no iDEXO by TOTVS e jornalista na revista da GOL (Trip Editora). Você também me encontra no Linkedin e no Instagram :)

--

--