Alejandro Vázquez, cofundador da Nuvemshop

Luiza Terpins
No Corre
Published in
8 min readAug 23, 2021

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Argentino de alma brasileira, o empreendedor ajuda pequenas e médias empresas a digitalizarem seus negócios e sua empresa acaba de se tornar unicórnio

Quem

Sou o Ale, argentino de alma brasileira (moro há 7 anos em São Paulo) e cofundador da Nuvemshop, plataforma de e-commerce líder na América Latina que ajuda empreendedores e pequenas e médias empresas a digitalizarem o seu negócio.

Temos escritórios em Buenos Aires, Cidade do México, Belo Horizonte, São Paulo e Bragança Paulista. No início de 2020 tínhamos cerca de 25 mil clientes e pouco mais de um ano depois o número já havia triplicado.

A pandemia fez o negócio crescer num ritmo inesperado. Em 2020, fechamos uma rodada de investimento de cerca de R$ 170 milhões liderada pelos fundos Qualcomm Ventures e Kaszek Ventures. Em 2021, recebemos uma nova rodada de investimento de R$ 500 milhões, liderada pelo fundo global Accel Partners, investidor internacional de empresas, como Facebook, Slack e Spotify.

[[Em 17 de agosto de 2021, após o papo que tive com o Alejandro, a Nuvemshop anunciou um aporte de US$ 500 milhões em uma rodada liderada pelos fundos Insight Partners e Tiger Global Management, o que a transformou em mais uma empresa com o status de unicórnio — quando vale mais de 1 bilhão de dólares.]]

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Quando deu o click de que era hora de empreender?

Me formei em Administração de Sistemas em Buenos Aires e, ainda na época da faculdade, me envolvi com uma ONG que estava apenas começando, então foi minha primeira experiência com empreendedorismo, já que tínhamos de fazer tudo do zero.

Durante essa experiência, que durou 3 anos, eu conheci muita gente (inclusive meus sócios), muitos empreendedores dos âmbitos social, político e empresarial, me inspirei com muitas histórias e aí veio o estalo: eu quero empreender e fazer algo que gere impacto positivo na América Latina.

Ainda durante a faculdade eu trabalhei na Dell e lá conheci o universo de e-commerce e PMEs com foco na América Latina e me apaixonei por essas áreas.

Como veio parar no Brasil?

Começamos a Nuvemshop há 10 anos já com a missão de construir algo na América Latina. Como o mercado tecnológico na Argentina era pequeno, vimos que no Brasil poderíamos ajudar milhares de empreendedores e PMEs. Embora já existissem empresas fazendo o que estávamos fazendo, nenhuma era do nosso jeito: com uma plataforma simples, intuituiva e acessível.

Foi bastante desafiador porque o mercado brasileiro era totalmente diferente e mais amadurecido que o argentino — nossos clientes aqui nos falavam de necessidades que na Argentina ninguém tinha comentado ainda.

Ficou claro que o lojista brasileiro era diferente e que precisávamos entender como essas pessoas operavam. Tínhamos captado investimento anjo e, nos primeiros três anos de empresa, passamos várias temporadas longas aqui em São Paulo. Alugamos um apartamento de 40 metros quadrados onde ficávamos 3 argentinos e 3 brasileiros e trabalhávamos numa sala emprestada da OLX (um dos fundadores é nosso investidor anjo).

Nessa época (2011) o Brasil tinha o custo de vida mais caro e ninguém acreditou no que a gente conseguiu fazer só com esse investimento anjo.

Até que em 2013 já tínhamos uns mil clientes e vimos que estávamos indo bem na Argentina, tudo que testávamos lá dava certo, e quando trazíamos para o Brasil, não dava – seja campanha de marketing, landing page nova…

Percebemos que estávamos operando com um "mindset de Argentina" e que precisávamos mudar isso. Éramos em 15 pessoas e começamos todos a fazer aulas de português.

Na época, costumávamos começar os reports sempre falando de Argentina e depois do Brasil, e nesse momento invertemos a ordem. Também passamos a experimentar coisas só aqui. Precisávamos realmente respirar Brasil.

Foi quando tivemos a ideia de eu me mudar para cá. Poderia ter sido outra pessoa, mas eu já tinha essa vontade.

Hoje, para se ter uma ideia, o time de C-Level da Nuvemshop tem 9 pessoas, sendo 3 brasileiras (e dois dos argentinos moram no Brasil). Ou seja, tem mais pessoas concentradas no Brasil do que na Argentina. Temos também muitas iniciativas que começam aqui e chegam mais tarde na Argentina e no México (ou às vezes nem chegam).

Como é um dia de trabalho?

Vou falar de uma semana típica: tenho reunião individual com cada líder que reporta a mim. Dura cerca de 1h30 e tocamos assuntos de estratégia.

Tenho também uma reunião com o time de C-Levels que é focada mais em alinhamento estratégico. Depois, com squads para falar de assuntos mais específicos e o mesmo com os country managers. Também faço reuniões envolvendo clientes ou parceiros.

E nos últimos meses tenho feito também muitas reuniões de recrutamento.

O que você costuma fazer nas horas vagas?

Gosto bastante de correr. Já fiz algumas maratonas — a última já tem uns 4 anos, então preciso renovar [risos]. Me ajuda mentalmente e fisicamente. Gosto também de ler, assistir filmes, seriados e de estar no mar, seja mergulhando, nadando ou passeando de barco.

Ah, e um hobby que apareceu na pandemia foi o de DJ. Fiz um curso e tenho tocado em casa. Estou esperando a pandemia passar para praticar ao vivo [risos].

O que te ajuda a ser mais produtivo?

Não utilizo muita ferramenta. Sou bastante básico nesse sentido. Tenho, na verdade, o hábito de definir objetivos e uma metodologia que me ajuda com prioridades. Divido elas em três níveis:

  • 0 = tenho que fazer com certeza no dia. É o mais importante.
  • 1 = é ideal fazer, mas se não der, tudo bem.
  • 2 = são coisas que me divertem e que tudo bem se eu não fizer.

Isso muda quase que todo dia, né, mas coloco tudo no Calendar e aproveito as manhãs para trabalhar nelas. Para gestão de projetos usamos o Asana na empresa.

Quais são os maiores desafios de empreender na sua área?

Acho que o principal tem a ver com a nossa capacidade de executar muito bem. O que quero dizer: estamos em um negócio extremamente validado, mas ainda no início (há muito a ser feito quando o assunto é e-commerce).

Temos um modelo de negócio muito sólido, investidores de primeiro nível e um time robusto. Temos tudo para garantir a nossa missão que é ser a opção óbvia para qualquer negócio na América Latina. Por isso, nossa maior ameaça somos nós mesmos, e não a concorrência.

E muito desse desafio tem a ver com a nossa capacidade de trazer pessoas que nos complementam e fazer o melhor processo de onboarding possível. Triplicamos o time no último ano e ainda devemos dobrar até o final do ano. Isso é algo que nunca fizemos e é muito desafiador. Para contratar, olhamos dois aspectos:

  1. Como as pessoas trazem skills técnicos que nos complementam;
  2. Alinhamento cultural.

A pessoa pode ser espetacular a nível técnico, mas se o gap cultural for muito grande, não vai funcionar. Pode dar certo a curto prazo, mas rapidamente os problemas começam a aparecer, então o custo vai ser muito maior.

Temos pessoas que entraram na empresa há menos de 6 meses que já estão contratando, então precisamos garantir que elas consigam fazer um bom recrutamento mesmo com tão pouco tempo de casa. É um problema espetacular para se ter, mas é o maior desafio que temos. Colocamos muita energia nisso porque, se não for bem feito, sentiremos as consequências.

Outro desafio ainda nesse aspecto é que não basta apenas trazer pessoas para o time, é preciso cuidar delas. Tem gente que entrou quando o time tinha 100 pessoas, agora temos muitas coisas mudando, mas a cultura e a essência precisam se manter. Me preocupo em como as pessoas podem continuar crescendo e gerando impacto positivo mesmo em um contexto diferente.

O que ou quem tem te inspirado?

Várias pessoas e companhias me inspiram em diferentes aspectos. Para citar uma: a Zappos. Somos uma empresa de tecnologia mas temos como diferencial o atendimento e as experiências que oferecemos aos nossos clientes e isso eu trouxe muito do que a Zappos fez – o livro Satisfação Garantida, escrito pelo fundador Tony Hsieh, é uma ótima leitura. O Airbnb e seu estilo data-driven também me inspiram. Todos os nossos squads operam focados em dados.

Para o lado pessoal, gosto de conhecer as pessoas através de biografias. Li desde a do Elon Musk, até a de um dos fundadores da Pixar. O Ben Horowitz tem um sobre cultura chamado Você é o que você faz que é espetacular.

Enfim…eu não me caso com ninguém [risos]. No final das contas, é sobre se inspirar com o que essas pessoas já fizeram e pegar as informações que lhe podem ser úteis.

Um conselho a quem deseja tirar uma ideia do papel

Tenho dois:

  1. Para tirar uma ideia do papel, você precisa falar com pessoas e potenciais clientes. Precisa responder a duas questões: "Qual é o problema que você quer resolver?" e "Com qual produto ou serviço você vai conseguir isso?". Parece simples, mas não é. Eu queria ter falado muito mais com clientes no início, por isso compartilho essa dica para quem está começando agora.
  2. Pensar grande, tão grande quanto quiser. Não é no sentido de começar um e-commerce querendo virar a Amazon, mas é para não se limitar. Dê o primeiro passo, comece pequeno, vá atrás. Tenho clientes que querem vender para o mundo todo e eu acho excelente, mas falo para começar vendendo no bairro, depois para a cidade toda, e por aí vai. A Amazon começou com livros e hoje vende praticamente tudo.

Quem você gostaria que participasse do No Corre?

Igor Senra, fundador da Cora. Super admiro ele, é um amigo de muitos anos.

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Sobre o nocorre:

Oi, aqui é a Luiza Terpins, criadora do nocorre. Desde 2018 eu bato papo com pessoas que estão na correria para fazer um projeto acontecer e conto aqui suas trajetórias e bastidores. O meu corre atualmente é na Além, onde sou co-fundadora e head de conteúdo. Antes, fui head de comunicação no iDEXO by TOTVS e jornalista na revista da GOL (Trip Editora). Você também me encontra no Linkedin e no Instagram :)

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